25 de julho de 2008

Halley

A Estela tinha um irmão que tinha um telescópio, um telescópio a sério e que sabia mesmo o nome das estrelas e das constelações e mapas dessas mesmas constelações para várias alturas do ano e que sabia de cor os dia certos para observar os planetas e que as estrelas cadentes eram meteoritos e o que era um cometa e foi ele que nos avisou que vinha ai o Halley. Chamava-se Fernando e usava sempre suspensórios e óculos com aros de tartaruga e tinha uma armação em metal com lentes escuras que encaixava nos óculos para ficar com óculos escuros e que me ensinou onde fica Orion e a Cintura de Orion e que representava um caçador e outras coisas a que sinceramente nunca prestei muita atenção porque ele foi a primeira pessoa que conheci que para alem de parecer uma enciclopédia de astronomia adorava desafios de matemática livros de quebra-cabeças e fazia musculação, disto tudo eu fingia interessar-me por astronomia e pelo cometa Halley mas na verdade eu gostava mesmo era de anatomia, principalmente da dele. A minha casa tinha três andares e era a mais alta da rua, tinha um terraço ao nível do segundo andar e de lá todas as manhãs por volta das sete e meia, hora a que me levantava para ir para o liceu, via o Fernando debaixo do telheiro do quintal a levantar pesos e a fazer abdominais, ficava nisto sempre cinco minutos antes de me ir masturbar e tomar duche, tomava o pequeno-almoço e saia para a paragem do autocarro onde os outros já me esperavam. O Fernando já andava no último ano e ia de mota e um dia fiz de propósito para perder o autocarro e fui-lhe pedir boleia que ia ter teste e mais uma seria de balelas e ele deu e assim fui abraçado aquele “tronco” com as mão bem agarradas aqueles abdominais bem torneados, ao chegar disse-lhe que tinha medo de andar de mota e pedi desculpa por me ter garrado com tanta força e vai ele “não faz mal puto sempre quiseres podes-te agarrar a mim...” eu ruborizei e sai disparado em direcção à sala de aula. Depois à noite e com a desculpa sempre esfarrapada do cometa, coisa que andava a fascinar toda a gente que até parecia que era contagioso, lá ia para casa dele para o sótão ver as estrelas e as constelações e como o sótão era quente como o caraças por causa da caldeira de aquecimento que o pai deles tinha instalado e que mandava o calor todo para ali enquanto a casa permanecia um gelo, ver o Fernando em tronco nu. Então um dia, se não estou em erro em Março, ele diz “temos de sair esta noite, vamos para o mato que aqui há muita luz” e lá fomos, ele eu o telescópio e dois sacos cama a caminho do descampado ao lado do Campo-da-bola para ver finalmente o tal do cometa, lembro-me de estar um frio de rachar e depois de montado o telescópio e ele o ter orientado de acordo com uns mapas nos termos enfiado nos sacos camas e de termos começado a bater os dentes com o frio e depois juntamos os sacos para nos aquecermos melhor e eu tomei coragem e aquecemo-nos mesmo, o certo é que no fim acabei por não ver o cometa nem naquela noite nem nas outras que se seguiram. Infelizmente. Para o cometa.

21 de julho de 2008

A view to a kill

Não que a minha avó fosse louca, nada disso, para alem de se vestir sempre como se a Rainha de Inglaterra pudesse ir lá a casa a qualquer momento e de tomar uma centena de comprimidos para dormir e outros tantos para acordar e de beber uma garrafa de litro de água da pedras por dia pode-se dizer que até estava muito bem, em 1986 em casa dela onde eu passava o Verão viviam: ela o meu avô os meus tios o meu primo a dona Isilda, empregada da minha avó e só da minha avó, a Cremilde empregada da casa e o filho dela o António, um rapazola quase em idade militar que trabalhava na padaria do meu avô, bem a padaria já não era dele mas continuava a referir-se a ela como se o fosse, o meu avô tinha sido padeiro toda a vida até que compro a padaria onde trabalhava, modernizou-a e depois quando achou que já tinha dinheiro suficiente “reformou-se” passava o dia entre copos, mulheres e jogo, o certo é que a pouco e pouco o dinheiro foi-se, tomou então rédeas da família a minha avó, vendeu a padaria e algumas casas e a quinta, guardou o dinheiro em nome dela e dava ao meu avô uma mesada para ele se “entreter”. A casa era enorme e misteriosa e sempre me tinha fascinado, toda a minha infância sempre me tinha sentido um estranho naquela casa estranha onde havia portas que nunca se abriam onde não se podia correr ou brincar e onde tinha-mos de nos vestir para jantar. Os meus dias, quando não andava na rua ou em casa de algum miúdo da vizinhava, vizinhança que ficava pelo menos a dez minutos a pé a mais próxima, estava enfiado debaixo das saias da Cremilde, quer dizer andava pela cozinha que era o reino dela e onde eu podia fazer o que bem me apetecesse que eu era “o menino” e só lá ia um mês por ano, quem aproveitava bem o facto de eu estar ali para “entreter” a malta da casa era o meu primo, levantava-se com as galinhas e só voltava ao jantar, voltava porque senão a minha avó deserdava-o que o jantar era sagrado. No andar de cima havia um quarto que estava sempre fechado, ao subir a escada e do lado direito, o que dava para a as traseiras era o quarto dos meu tios depois o do meu primo depois a casa de banho depois o dos meus pais, que nunca foi utilizado, depois o meu e no fim uma espécie de despensa das roupas de cama e assim, do outro lado em frente, do lado da rua outra despensa igual que era o quarto do meu avô, o escritório/biblioteca que ocupava dois quartos e que tinha as portas sempre abertas, o quarto da minha avó e o quarto misterioso que estava sempre fechado à chave e que quando um dia perguntei à Cremilde o que lá estava ela fez um ar estranho e desviou a conversa. Aquele quarto chamava por mim e eu sentia uma vontade enorme de lá entrar. Um dia tive uma ideia, precisava de ajuda, pedi delicadamente à minha avó, entre a sopa e a galinha de fricassé se podia convidar o Chicha a passar uns dia lá em casa que andava meio aborrecido e que ele era filho de boas famílias e o pai dele trabalhava no banco e ela depois lá aceitou “Está bem, mas o menino veja lá quem é que trás cá para casa” e vai a Isilda “E olhe vai ter de dormir consigo que temos os quartos todos ocupados”, a partir desse dia fiquei a amar a Isilda, e assim foi, telefonei ao Chicha e o meu tio um alemão com quase dois metros que arranhava um português macarrónico lá foi no seu Ford RS 200 amarelo novinho em folha busca-lo à paragem do autocarro, depois de concluídas as formalidades de apresenta-lo à família , depois de ele ter debitado todo o historial da família dele à minha avó e depois de a Isilda lhe ter explicado o funcionamento da casa fomos para o meu quarto onde ele pode finalmente mudar de roupa e depois de pôr-mos a conversa em dia e depois de devidamente apresentado à Cremilde “ái que o menino tá tão magrinho, mas isso resolve-se que a sua mãezinha nem o vai conhecer quando sair daqui” levei-o a explorar a casa e os anexos o pomar e os terrenos em volta e foi quando lhe falei no quarto misterioso e se ele ainda tinha “o Dom” é que o Chicha para alem de ser uma febra era um ás a abrir fechaduras, estava-lhe no sangue, de tal maneira que hoje está em Caxias a ver se pensa melhor o que quer da vida, mas nessa altura o gajo era mesmo um ás. Depois do jantar fomos para a sala a minha avó a minha tia e a Isaura entretidas com a televisão e o meu tio de volta de umas revistas técnicas alemãs incompreensíveis ao comum dos mortais, na varanda eu o Chicha e o meu primo, o meu avô como sempre saía para “espairecer” e gastar mais umas milenas no jogo e mulheres, e ali ficámos sentados na conversa e a fumar à vez e às escondidas por trás da buganvília até o meu primo se ir embora que tinha de ir à pesca de manhã. Esperamos que se retirassem todos, o mais difícil foi o meu tio mas como parecia que ele estava em transe lá fomos os dois para o meu quarto, esperamos mais uma hora até todos estarem a dormir e avançamos com o plano, foi canja o Chicha abriu a porta num abrir e fechar de olhos e assim ficou destrancada até que pudéssemos voltar no dia seguinte, mal dormi nessa noite, por causa disso e por causa da chicha do Chicha, que com a excitação de termos feito algo assim tipo espião russo o deixou mais excitado que um urso com o cio e pode-se dizer que tivemos uma noite muito agradável. No dia seguinte aproveitámos que era Domingo e enquanto a minha avó e a Isaura e a os meus tios iam à missa, para explorar o quarto misterioso. Desilusão das desilusões. Três guarda fatos cheios de vestidos e de roupas velhas, uma mesa e uma cadeira. Nada de interessante, mas porquê manter aquele quarto fechado? Resolvi explorar melhor, mandei o Chicha para baixo a ver se não vinha ninguém e fui à descoberta, nada, nada de nada. Desci as escadas e fui direito à cozinha e perguntei cara à cara à Cremilde a razão daquele quarto e que já lá tinha estado e tudo e que ela de uma vez por todas tinha de me dizer tudo. “Olhe menino, aquele era o quarto dos seus avós, o quarto onde dormiam os dois. Depois de o seu avô variar a senhora sua avô mudou-se a ela para outro quarto e a ele para o quarto das roupas e mandou fechar aquele quarto da mesma maneira que fechou o coração. E só ela é que tem a chave e é onde guarda o enxoval dela de quando era nova.” Pois, afinal a minha avó não era louca nem, nada que se parecesse, tinha era o coração partido. O pior foi depois. Entretanto o Chicha tinha desaparecido, grande amigo aquele que lhe tinha pedido para ficar a guardar, mas dele nem sinal procurei por todo o lado até que fui dar com o António nas garagens com as calaças na mão debruçado sobre o carro do meu tio, um ar ofegante e o Chicha por trás dele a fazer o que ele fazia de melhor, ia eu já pra interromper “mas afinal a festa é aqui e ninguém me convidou” mas não tive tempo de nada, só ouvi a minha avó chamar por mim, “O menino pode chegar aqui por favor?”. Pois é, tinha-me esquecido de fechar a porta do quarto! E assim o Chicha lá teve de se ir embora e eu tive de ficar de castigo. Infelizmente. Para ele, que o meu castigo foi ajudar o António a limpar as garagens...

17 de julho de 2008

Os Covões

Como o dinheiro não abundava nem sempre ia-mos à piscina, assim a malta juntava-se pegava nas biclas e lá ia para os Covões, uma represa ou melhor uma poça de água no meio do mato mais de meia hora pra lá do cemitério, bem no meio dos sobreiros que para lá chegar tinha de ir um rôr de tempo por uma estrada de terra batida embora a de alcatrão também não fosse melhor tantos eram os buracos que mais parecia um queijo suíço, na altura já quase todos tinham BMX só eu é que tinha uma Vilar GT Catita e o Cabeçudo tinha uma Pasteleira que era do avô dele. Assim à hora combinada na véspera, quase sempre durante o jogo de esconder, passatempo preferido das noites de Verão, lá nos juntávamos no campo da bola e pedalava-mos por montes e vales curvas e contra curvas pó e cascalho até aos Covões, levava-se sempre a "buxa" uns papo-secos com manteiga ou Tulicrme uns Caprisones ou uma garrafa vazia e um pacote de Tang que água havia com fartura na dita represa, felizmente ninguém morreu nem nunca soube de nenhuma gastroenterite e também ninguém nunca se perguntou de onde vinha aquela água toda ali no meio do mato, de onde vinha para onde ia e porque é que mesmo no pino do Verão era sempre fresca, bom mas isso agora não interessa nada. O certo é que eu era sempre o ultimo a chegar mesmo com mudanças a minha bicla era a mais lenta, ou eu o mais preguiçoso que até o cabeçudo chegava primeiro e depois já com todos na água tinha de me despir com todos a olhar pra mim o que no fundo eu até gostava, fazia sempre um míni numero de strip com o Bruno à beira com àgua pelos joelhos e a fazer de conta que a gaita era um microfone e a cantar "Touch me, touch me. I want to feel your body" e prontos despidos os turces lá ia pra dentro de água e como não sabia nadar ficava-me sempre ali pela beira muitas vezes sozinho outra, a maioria, com o Zé Carlos a fazer-me companhia que ele gostava muito de "brincar" aos microfones, e lá ficava eu de papo pó ar meio dentro de água com ele a "cantar" ao microfone. O lanche era sempre uma festa, era sempre a ver quem tinha a sandes melhor e a trocar "toma lá uma de Tulicreme e dá cá uma de marmelada" "foda-se quem é que me roubou o papo-seco com doce de tomate?" o Carlitos tinha sempre um com doce de tomate que o Bruno roubava sempre e depois metia o coiso lá dentro e punha-se "queres tomate queres? agora tens de o vir cá alember" e a malta ria-se a bandeiras despregadas com aquilo é que o Carlitos era muito mas mesmo muito envergonhado, sempre que a malta se punha assim nas "brincadeiras" enquanto os outros por regra faziam vista grossa ele ficava vermelho que nem um tomate e não consegui desviar os olhos da acção, o coitado queria era festa mas a timidez não deixava e assim que alguém lhe tocava fugia logo e encolhia-se todo e era o único que tomava banho de truces, não sei porquê que aquilo via-se tudo na mesma e o rapaz apesar de ser mais novo que nos até nem tinha nada com que se envergonhar, então um dia combinamos todos fazer uma barrela ao Carlitos e assim foi depois do lanche ia-mos sempre "dormir" a sesta deitávamo-nos à sombra de um sobreiro e passava-se assim pelas brasas nunca dava para dormir profundamente que havia sempre algum gemido ou algum "ái foda-se que tá-me a doer" e aquilo despertava e acabava-mos sempre em "festa", todos menos o Carlitos, ora um dia quando nos deitamos o Cabeçudo diz que vai mijar e dá assim a volta por trás e atira-se por cima dele, a malta alevanta-se toda e agarra-o uns pelos pés outros nos braços e ali ficou ele aos berros de "larguem-me larguem-me que eu digo à minha mãe" então eu o Bruno e o Zé Carlos despimo-lo dos truces e vai de encher de folhiço e lama esfregar com terra e não é que então sem mais e com o tipo sempre a torcer-se aquilo levanta que parece uma morcela cacholeira, "larguem-me foda-se vocês vão ver se eu não conto ao meu pai seus cabrões" e vai o Bruno pega numa garrafa com água e começa a lavar aquilo "prontos prontos meu menino ca gente na te faz mal" e mal aquilo tá ali limpinho e brilhatezinho deu-lhe pa começara a brincar com ele, cosseguinha aqui, festinha alem, e vai acima e vai abaixo e o Carlinhos só já dizia "ài foda-se não pares" e prontos nesse dia ninguém dormiu a sesta e pode-se dizer que foi o melhor dia que passamos nos Covões naquele ano, é claro que a partir dai o Carlitos nunca nos largava sempre a perguntar quando é que lá íamos outra vez e um dia o Zé carlos disse-lhe "se queres eu vou lá mas tem de ser agora" e ele não percebeu e teve de o gramar à força nos balneários do ringue desportivo e depois contou ao irmão que na altura já devia ter prái uns vinte anos e ele vai ter com o Zé Carlos e arriou-lhe uma carga de porrada e um dia foi com os amigos dele ter aos Covões e apanharam a malta na "brincadeira" e depois dizem que foi uma festa. Dizem que eu nesse dia não fui. Infelizmente.

16 de julho de 2008

Sandes de mortadela

Com o Verão chegava sempre o calor e com o calor as idas à piscina municipal, quer dizer ao tanque municipal que aquilo de piscina para além das pranchas e de uns quantos azulejos azuis pouco tinha de piscina. Apanhávamos a camioneta às 7 da manhã e depois de mais ou menos meia hora de viagem lá chegávamos aos "jardins da piscina" uma pedaço de relva mal cuidada com umas árvores raquíticas em volta de um suposto campo de ténis que nunca vi ninguém usar e das ditas piscinas, esperava-mos até às nove e meia, hora em que por vinte escudos se podia dar entrada no magnifico mundo da pesca submarina, assim das sete e meia mais coisa menos coisa até às nove e meia era ver-nos escarrapachados na relva ou a jogar às cartas, que o Bruno tinha um daqueles baralhos com gajas nuas que lhe tinha saído num daqueles jogos que havia no café do Ti Jorge onde a malta ia beber as gasosas com groselha e se furava um papelão de onde saia uma bola com um numero que dava direito a um prémio, uma navalha ou um chocolate Regina ou uma caneta Bic laranja ou um lápis ou uma merda assim do género, quer dizer as navalhas até que davam jeito e os chocolates sempre dava para dar às miúdas a troco de um beijo ou para ver a "passarinha", ora um dia saiu ao Bruno um destes baralhos, o que foi uma alegria que assim para alem de podermos jogar ao "Créps" e á Copa sempre nos podíamos entreter as ver as beldades que às vezes até nos esquecíamos de jogar, e lá vinha sempre alguém, por norma o parceiro "joga lá essa merda pá e para de olhar pás gajas que não tens piça pa isso", quando não se jogava às cartas ficava-mos por ali deitados na conversa a ver a malta da cidade. Assim que se comprava o bilhete era um ver se te avias para chegar aos balneários, umas cabines minúsculas com umas portas de contraplacado e com uma particularidade que só anos mais tarde descobri para o que é que realmente aquilo servia, em praticamente todas havia um buraco que comunicava entre cabines, e onde o Rui estava sempre a enfiar o coiso e a gritar para o outro lado "mama lá aqui a ver se eu deixo?" mas acho que nunca ninguém mamou, acho. Já dentro do recinto da piscina havia três sítios distintos, a zona do terraço, uma laje de cimento por cima dos balneários para onde a malta ia sempre e ái de quem lá pusesse o cú que levava logo logo uma arrochada que connosco ninguém se metia, a zona da relva que ficava mesmo por baixo do terraço e para onde iam a miúdas e os gajos assim mais pó efeminado porque era uma parte onde quase não havia sol e a zona do bar para onde ia a malta mais velha. Era sempre uma correria a ver que escolhia os melhores lugares, aqueles junto a grade para poder ficar deitado a ver as gajas e a escarrar cá para baixo para cima dos larilas e um dia o Zé Carlos até que andou à briga com um que se chamava Banquinho e até era bem giro que depois ficaram amigos e tudo e por mais que uma vez até iam à casa de banho os dois porque o Zé Carlos dizia que como aquilo não tinha fechadura tinha de ter alguém a segurar a porta senão não era capaz de fazer e um dia quem foi com ele fui eu e ele é que me fez, no terraço havia ainda a particularidade de se poder ver todo o recinto, ou seja podia-se dali micar quem ia à água e se interessasse ir também, um dia a Susana, uma gaja já mais velha da zona do bar foi à água com um biquíni branco e sem demoras ai vou eu escada abaixo que tinha de ver aquilo mais de perto e de preferência debaixo de água mas a pressa foi tanta que ao chegar à beira da piscina escorreguei, bati com o cú no chão e rebolei por ali a fora e fui cair na parte dos dois metro, ora como na altura não sabia nadar muito bem ou quase nada o que me valeu foi o Alexandrino, o empregado do bar da piscina que me foi lá buscar que se não agora não estava aqui a escrever estas linhas, foi nesse dia que abri os olhos e mudei-me para a zona do bar, tinha cadeiras, mesas, miúdas giras, sandes, sumos e o Alexandrino, um metro e noventa de músculos olhos verde azulados cabelo à Macgyver e uns calções de Lycra azul assim tipo ciclista por onde sobressaiam todos os atributos do meu salvador, alem de tudo isto era um tipo mesmo muito simpático e conversador e quando não havia trabalho sentava-se ao pé de mim punha-me a mão na perna e dizia "pois é ó Bisnaga agora vê lá na te afogues outra vez que hoje tô com mau hálito" e ria-se a bandeiras despregadas com um vozeirão que parecia um tempestade seca no mês de Agosto que um vez fomos todos, eu o Zé Carlos o Bruno o Moi e o Mendes para os campos ao pé do cemitério ver os relâmpagos e o que valeu foi o sino da capela que amparou o primeiro raio o pior foi o segundo que pôs aquela merda toda a arder e tivemos de sair dali a correr e chamar a Ti Alice que morava na primeira casa para chamar os bombeiros e depois toda gente disse que fomos uns heróis que senão tinha ardido tudo, e depois esfregava-me sempre as costas e lá ia servir mais umas sandes e gasosas, o Alexandrino não a Ti Alice que tinha as mãos cheias de verrumas, quem trabalhava tambem no bar era o Vesgo que trocava sempre os pedidos todos e uma vez até deu um Tang de morango à Morcega que era alérgica e ela teve de ir para o hospital e o Alexandrino teve de lhe dar na cabeça, do Vesgo não da Morcega. O Alexandrino tinha sempre muitos amigos de volta dele todos os rapazes giros da zona do bar pareciam abelhas em volta do mel “ó Xandre é uma sandes de mortadela e uma míni faz favor” “ó Xandre é um caprisone de laranja e uma sandes de mortadela faz favor” “ó Xandre é uma sandes de mortadela e...” e era isto o tempo todo, que as sandes de mortadela eram a especialidade do bar e vai um dia não levei almoço e cheguei assim ao pé do balcão e pedi com uma voz meio sumida "ó Alexandrino era uma sandes de mortadela fáz favor" e vai ele começa a rir-se olha para mim e diz "ó puto pra ti não há mortadela que ainda tens de comer muito feijão a ver se cresces". Depois o Bruno é que me disse o que se dizia à boca pequena, é que o Alexandrino não aviava só no balcão também aviava umas certas “sandes de mortadela” lá por traz do bar. Diziam, que eu cá nunca comi nenhuma. Infelizmente.

14 de julho de 2008

Telescola

O meu preparatório foi diferente, todos passamos a quarta classe todos menos o Tchico a Lena Mosca que tinha uns óculos que já na altura mais parecia que tinha dois pára-brisas à frente da cara a Paula Cabaça que era burra que nem sei lá o quê e o Zé Carlos, fiquei triste na altura por ele não ir com a gente pra o Ciclo mas depois a Cara de Bacalhau, que era como a gente chamava à vaca da nossa professora que nos dava reguadas nos nós dos dedos das duas mãos sempre que a malta não sabia onde é que desaguava o Guadiana ou outro rio ou ribeira do nosso Portugal ou quando não sabia-mos a tabuada de trás pra frente e salteado principalmente A do 5, não a tabuada do 5 A do 5 era uma miúda enfezada que tava sempre a levar reguadas porque também era burra como o caralho e foi uma injustiça ela ter passado e o Zé Carlos não, então ela veio dizer que afinal a telescola continuava até a gente fazer ali o primeiro e segundo ano, a Cara de Bacalhau não a A do 5, primeiro ficamos todos com o cú nas mãos que quem dava a telescola era o professor Beirão, um velho sádico que puxava as orelhas até aos joelhos e a mulher dele que salvo erro se chamava Emília mas a quem a gente chamava Milinha, depois apercebemo-nos que eram mais dois anos na aldeia à vontade e com aulas só da parte da tarde, porque como só havia 4 salas eram de manhã para a primária e à tarde para a telescola, primeiro e segundo ano, ficou então connosco o Rui Orelhas que se chamava assim porque parecia o elefante dumbo que descobri mais tarde não era só nas orelhas, o Pequeno que por acaso até era pequeno mas mesmo muito pequeno até parecia que tinha prái cinco anos não na altura, no tamanho, e a Rita que era filha do pastor cheirava sempre a cabra que por acaso também era, cabra não pastora que hoje é directora de uma cena de hotelaria no Algarve. Logo no primeiro dia de aulas o filho da puta do Beirão pôs nos todos à volta da secretária dele com a Milinha a um canto a dar-nos revisões de matemática a ver o que é que a gente sabia, foi o descalabro que fomos todos pra casa com as orelhas num estado lastimoso e em casa ainda levamos mais porque se o professor nos bateu é por que merecemos e fizemos alguma. Nesses primeiros dias apaixonei-me pela Raquel que não usava cuecas, já falei nela por isso não adianta tar a repetir, que ele tava mesmo muito gira na altura pena era os dentes tortos à frente que parecia que tinha levado com o ferro de engomar mas que depois a meio do ano pôs uns arames que lhe saiam assim da boca tipo estendal da roupa e aquilo não dava jeito nenhum para coisa alguma e ficou com a cremalheira toda certinha que até andava sempre a rir-se, nesses dias antes dos arames ela era mesmo muito gira e como não usava cuecas quando se sentava no recreio no banco debaixo da nespereira que estava ali do lado esquerdo junto ao bebedouro mesmo em frente das casas de banho, abria as pernas para agente ver e era um regalo que até o Moi uma vez bateu tantas seguidas que até deitou sangue e depois o Abelha disse que ele tava seco e lhe iam cair os tomates e o primo dele foi-lhe à boca que nisto de tomates a família defende-se sempre, um dia tomei coragem e pedi à Raquel se queria namorar comigo ela disse que sim desde que pudesse namorar tambem com o Miguel que era irmão do Mendes que o pai tinha uma oficina e andava no segundo ano, o Miguel não pai, e que até era um gajo porreiro que me ensinou uma série de coisas sobre as gajas e curtíamos à vez com a Raquel e até me uma vez me deixou ver como é que se fazia, não que eu não soubesse que o pai dele emprestava-me montes de vezes as Wekend Sex da oficina, mas assim ao vivo sempre metia muito mais tesão e depois quem amargou foi o Zé Carlos, comigo é que ela nunca me deixou meter nem o dedo que eu até cortava as unhas sempre rentes porque o Miguel dizia que o pior cheiro para sair debaixo das unhas era o cheiro da rata e o cheiro das pregas do olho do cú, e ele andava sempre com os dedos no nariz e dizia sempre "Ó Bisnaga, cheira lá aqui. Bom hã? É do cuzinho da Rita Pastora pá. Até cheira a rosas..." e depois enfiava-me os dedos pelo nariz acima e um dia até me pediu pa ficar com o meu cheiro mas eu disse que só se fosse na unha do dedo mindinho e o cabrão enganou-me e meteu o polegar que até me fez doer que parecia que tinha era posto o braço inteiro e depois passou o dia todo a cheirar a a esfregar-se e a lamber os beiços a olhar pra mim, foi nesse dia que terminei o namoro com a Raquel é que tinha a sensação que aquilo ainda ia terminar mal. O que me valeu na altura foi O Zé Carlos que tava sempre lá pra mim, foi no ombro dele que fui chorar e que quando lhe contei tudo também queria por o dedo que jurava que nunca mais lavava as mãos mas eu não deixei que isso era avançar muito na nossa amizade e como estava estava bem, que ele podia ter outras partes de mim mas aquela não. As aulas até que nem eram más o Beirão dava-nos Ciências Naturais, Matemática, Desenho, Trabalhos Manuais e Educação Física o que no fundo se resumia a Matemática e revisões de Matemática que o filho da puta era um sádico do caralho a Milinha dava-nos Português, Francês, História, Meio Físico e Social e Religião e Moral o que no fundo se resumia a Religião e Moral e malta até gramava daquilo que sempre dava para a gente se rir e fazer piadas porcas com o santinhos, foi por essa data que fiquei devoto do S. Sebastião, é que só olhar pó gajo, tudo espetadinho e com uma cara de gozo que vou ali já vanho assim como quem diz "vai romano filho da puta, espeta mais uma que me estou quase a vir" uma vez a Milinha apanhou um papelinho do Vasco para o Cabeçudo que dizia "Vou rezar um 1/3 para arranjar 1/2 de te levar para 1/4" e a Milinha pô-lo de castigo de pé e de costas para a gente e de frente para o quadro e foi chamar o Beirão enquanto isso a malta divertiu-se a amandar papelinhos com as fisgas de arame que aquilo doía como o caraças depois o Beirão veio arriou-lhe uma carga de reguadas e só não lhe puxou as orelhas até aos artelhos porque ele tinha usado a matemática o que prontos até deu para subir um bocadito a nota e depois a Milinha levou-o a falar com o padre Graça e ele saiu de lá todo contente com um sorriso de orelha a orelha e outro de abebra a abebra que diziam que o padre Graça gostava muito de rezar com os meninos. Diziam, que eu cá nunca rezei com ele. Infelizmente.

11 de julho de 2008

Já me lembro

Bruno, chama-se Bruno o primo do Mário João que era giro como o caraças, o primo não Mário João que até nem era de deitar fora e que agora não tem piada nenhuma e usa uma barba que valha-me deus, o Mário João que do primo faz anos que não sei nada dele mas que na altura era mesmo muito giro, tinha assim um ar de Billy Idol mas em moreno mas do que eu gostava mesmo era da Maddona que até tinha um poster dela numa gôndola do vídeo do Like a Virgin e que eu punha a tocar no Walkman que o meu pai me tinha trazido dos Estados Unidos, a musica não vídeo claro, e me punha assim na cama a imitar a coreografia e uma vez a minha mãe entrou e disse "qué que tás a fazer?" e eu atrapalhado disse que tava a treinar pa entrar no judo que era dado pelo irmão da mãe do Mário João que também era bom como o milho, e vai ela responde-me "ái não vais não que aquilo é tudo uma cambada de vândalos e eu não te quero misturado com aquela gente" mal sabia ela. Também gostava da Samanta Fox mas era doutra maneira e do Billy Idol e ficava a sonhar com aqueles atributos, dos dois que eu cá nunca fui esquisito, e era por isso que eu gostava do Bruno, por ele ser parecido com o Billy Idol e por fumar cigarros com filtro que a malta só tinha dinheiro para Mata Ratos, foi também com ele que bebi a minha primeira cerveja uma noite atrás do deposito quando andávamos todos a jogar ao jogo de esconder e fui com ele que ele sabia dum sitio que ninguém nos encontrava e ganhávamos aquela mérda de certeza, dei dois ou três golos e fiquei logo com a cabeça a andar à roda, lembro-me vagamente de estar-mos os dois sem roupa e pouco mais. No outro dia doía-me era um pouco a cabeça e depois andei anos sem beber cerveja porque me fazia doer o cú, o Bruno dizia-me sempre que éramos os melhores amigos mas depois começou a andar mais com o Vasco que gostava de cerveja. Foi por essa altura que comecei a ser mesmo mais amigo do Zé Carlos que às vezes se vestia com os vestidos da irmã e jogava-mos aos Jogos sem Fronteiras no quintal dele que tinha um tanque mas só se nos despíssemos todos que assim era mais engraçado dizia ele, eu nunca percebi porquê mas fazia-lhe a vontade ele era sempre da França e eu outro pais qualquer e ele ganhava sempre e quem perdia tinha de dar a taça a quem ganhava, como quem perdia era sempre eu e não tinha como é obvio taça nenhuma tinha de o deixar bater-me uma, é claro que eu fazia sempre pa perder e ele até se esganava para ganhar e um dia a irmã dele apanhou-nos e obrigou-o que a partir desse dia convida-se sempre o Nuno Cigano para brincar connosco, mas ele nunca brincava ia sempre pra dentro de casa com a Rosa, que é como se chamava a irmã do Zé Carlos que por acaso casou com o Nuno Cigano, o Rosa está claro, e já ia grávida de uns poucos de meses e depois disse o puto que nasceu com quase 4 quilos era prematuro e assim lá continuamos a jogar aos Jogos Sem Fronteiras prái mas umas semanas até o Bruno se ter chateado com o Vasco e querer brincar comigo outra vez e o Zé Carlos convidar o Vasco lá pra casa e um dia fomos os quatro para a eira por trás da Casa do Povo que ligava com as traseiras da oficina do pai do Mendes e onde ele tinha um monte de pneus velhos e fizemos uma cabana com os pneus e umas chapas de lusalite e plásticos que fomos roubar ao lagar do avô do Tchico que tinha uma prima chamada Cristina que tinha um par de mamas que lhe chegavam quase ao umbigo, do Tchico não da prima, que ele era e ainda é cá uma torre que até parece que a mãe lhe punha Foscámonio no leite e que tava sempre no lagar porque o avô deles deixava o pai e mãe dela viverem lá porque estava desempregado e era um bêbado, o pai dela não o avô, o avô também era bêbado mas tinha o lagar e isso dava dinheiro e ela é que nos disse onde é que podíamos roubar os plásticos se lhe mostra-se-mos os pintos e ela engraçou com o do Bruno e até lhe bateu uma só por graça com a gente a ver e tudo e depois ela diz que se a gente quisesse mais para lá ir à noite mas eu não fui que tive medo do pai dela o Vasco não gostava dessas coisas e o Zé Carlos não gostava de gajas que eram todas porcas e cheiravam a bacalhau e depois viemos a saber que ele andava era a fazer o jogo do "Chupa-chupa" com o Bruno ou melhor a fazer ao Bruno lá na cabana dos pneus do pai do Mendes que nos disse que eles ião lá os dois todos dias antes de irmos para o ringue jogar às escondidas e foi assim que soubemos, eu e o Vasco e um dia escondemo-nos e apanhamo-los naquilo e vai o Vasco começa logo "agora é a minha vez senão vou dizer ao teu pai" e o Zé Carlos lá teve de lhe dar a vez, e fiquei eu e o Bruno sentados nos pneus com aquele dois de boca cheia a divertirem-se às nossas custas. Depois fomos para o ringue e foi a primeira vez que dei um beijo ao Bruno com língua porque era ele a amochar e encontrou-me dentro do bidom ao pé do bar das festas, quem me ensinou foi a Raquel que não usava cuecas porque era alérgica aos elásticos e deixava sempre por o dedo. Dizem, que a mim ela nunca deixou. Infelizmente.

10 de julho de 2008

Pan ó chocolá

O melhor do Verão quando não ia para casa da minha avó eram os imigrantes, vinham aos magotes em Reaults Super 5 e Fiats Ritmo alugados com as "cofres" recheadas de caramelos de fruta comprados na fronteira espanhola e de "pans ó chocolá" ressequidos de 3 dias de viagem desde o bairro da lata nos arredores de Paris onde limpavam a merda das famílias suburbanas e depois vinham pra cá com o cú cheio de francos e com a mania que só sabiam falar francês e que já não se lembravam de como é que dizia jambom e fromage e a voiture que vinha na auto route e que não parou no feu rouge e o caralho. Desses todos o mais engraçado era o Nunô, um reles raquítico que tinha um cão chamado Tômí eternamente com o cio e que se roçava sempre nas nossas pernas, o cão não o Nunô que esse se tentasse levava logo uma lambada e que estava sempre "Tômí viem lá mom petit" e que o porco do cão ignorava até ele se sair com "anda cão dum cabrão". Tinha uma irmã que na altura era podre de boa e dava para todos nas traseiras das escolas à noite quando a malta ia fumar os kentuckys às escondidas e um dia foi apanhada com o Germano que era um gajo já mais velho e burro que nem uma porta blindada e que no Verão queria sempre que a malta o tratasse por Germany o que ninguém fazia e o gajo ficava tão danado que andava atrás de nos para nos dar caroladas e até ficava com as orelhas encarnadas, o Germano era e é louro, a malta chamava-lhe Russo e foi uma carga de trabalhos conseguir que ele nos mostrasse se lá em baixo também era louro ou não, e era mas pouco, não no louro mas na quantidade que até parecia que tinha feito a depilação ás bolas e pôs a malta toda a rir até que ele danado amandou uma arrochada no Moi e calamo-nos logo todos que o gajo alem de grande tinha força como um comboio descarrilado, porque pensava que a malta se tava a rir do tamanho que por acaso até era proporcional e era de uma cor assim tipo pó cor de rosa leitão. O Nunô tinha uns legos bestiais que o Vasco assim como quem não quer a coisa a pouco e pouco dia a dia peça a peça rapinou todo e depois disse que foi o pai que lho troce da arábia onde era pedreiro e dizia que fazia palácios e que lhe deu uma carga de porrada e obrigou a devolver o lego todo, eu ia lá pra casa dele brincar, do Nunô não do Vasco, também ia pra casa do Vasco mas a mãe dele era uma chata do caraças que nos obrigava a descalçar as Sanjo à entrada da porta das traseiras e só podíamos andar por cima das passadeiras de plástico e só nos dava pão com Tulicreme de um lado para o lanche e sumo de laranja daquele em pó que nem era Tang nem nada, em caso do Nunô havia sempre "pans ó chocolá" e Caprisones que a mãe dele punha numa geleira azul para a gente levar para o quintal onde estava sempre sentado o avô dele que tinha tido uma trombose e esteve assim meio aparvalhado uma dúzia de anos até morrer e um dia fizemos uma torre a terminar tipo em fisga com os legos até à cintura do velho e o Joel tirou o coiso pra fora e pôs ali a descansar, o do velho não o do Joel, e o Nunô foi a correr pra dentro de casa aos gritos que lhe tínhamos estragado o lego e a mãe dele nunca mais nos deu "pans ó chocolá" e o parvo só dizia que "porra pá era pó velho apanhar ar pá" e que parecia uma tripa de porco, o coiso do velho não o Joel, que depois foi de férias para São Pedro de Moel e quando voltou já não queria brincar connosco porque dizia que já não era virgem e que tinha papado uma gaja espanhola na praia e que nos éramos uns infantis e tal, mas que ninguém acreditou porque ele nem sequer quis dizer como é que foi nem se a gaja era boa ou não e o Mário João até andou á briga com ele e lhe chamou de maricas paneleiro e que afinal era um espanhol que o tio dele também estava em S. Pedro de Moel e lhe tinha dito que ele andava a levar na bilha, o Joel não o tio do Mário João que parecia um armário e dava aulas de judo no salão da Casa do Povo e escolhia sempre o Pedro para as demonstrações de como é que se faziam as cenas e ficava sempre a roçar-se em cima dele e um dia até ficou com ele em pé com a malta toda a rir e ele a dizer que "tão sa rir de quê? Acontece a todos ó não? Foda-se" e depois disso rodou a todos a fazer as demonstrações e que o Bruno e o Índio até brigaram por causa de ser a vez de um ou do outro e a malta dizia que eles queriam era o roçanço do tio do Mário João. Diziam, que eu não andei no judo. Infelizmente.

9 de julho de 2008

É que não me consigo lembrar...

Não me lembro do nome do primo do Mário João, já dei voltas e voltas à cabeça e não me lembro, era qualquer coisa parecida com Fábio ou Flávio ou então não tinha nada a ver. Bom hei-de lá chegar. Chamemos-lhe Manel. Pois o Manel era viciado em calipos, "um arrepio irresistível". E eu viciado no Manel tá claro, naquele verão onde estivesse o Manel era certo eu estar também, no ringue, no depósito da água, nas acácias, que era uma mata somítica que ficava por trás da fábrica da cortiça do pai do Cabeçudo, que até tinha a cabeça pequena com um penteado à tigela mas tinha a outra cabeça mais grossa que um punho fechado, nas traseiras das escolas primárias, eu e o Manel não o punho do Cabeçudo está visto. Um dia enquanto chupava mais um calipo perguntou com aquele ar malandro que ele tinha antes de ficar com o trombil cheio de borbulhas que mais parecia um estaleiro de obras do metro, se eu queria um coche, eu que passava as férias em casa da minha avó que era uma agarrada de primeira, Deus a tenha, e nunca me dava dinheiro para rájas disse logo que sim, vái dai ele diz "mas tens de chupar devagarinho e aqui e no calipo" juro que na hora fiquei mais envergonhado que uma alface frente a um coelho com o cio, mas como calipos era coisa que não se comia todos os dias foi abrir a boca e engolir. Nisto chega o Farinheira vê a cena e começa logo " ê pá dá ai um coche, vê lá na gastes isso tudo, a ver se chega pa mim tamêm" que o gajo tinha 14 costelas alentejanas e tinha a mania que era parecido com o gajo dos Wam aquele que ninguem se lembra não o George Michael por quem a Noca tinha uma paixão assolapada com o quarto cheio de posters da Bravo porque ela sabia mesmo alemão e até gozava com o Ferdy de que aquela merda estava toda mal traduzida e roçava-se toda nas arvores das escolas quando se falava do George Michael por quem o Cabeçudo também estava secretamente apaixonado, e um dia apanhamo-lo com ele na mão e com uma foto do George Michael na outra e foi assim que ele ganhou a alcunha de Cabeçudo e dizia que gostava era de gajas mas hoje continua solteiro e com uns tiques que vai-lá-vai que no casamento do Mário João até chorou na igreja. Vai dai o Manel tira a cena pra fora e diz pó Farinheira "ái queres atão anda cá buscar" o Farinheira vai logo "ê pá guarda lá o bacamarte quê cá cria era du calipe, foda-se cú gajo é aburricado" e era mesmo era maior que um palmo dos meus na altura, isto é naquele tempo era maior que um palmo da minha mão naquela altura que agora olhando para a minha mão até que não era assim tão grande, mas na comparação com a minha na altura, era. E vai dai o Manel começa a correr atrás do Farinheira com ele na mão e eu entretido a ver a cena e a mamar o calipo, quando o gajo se eu conta já quase não havia nada e tive de mostrar o meu para comparar com o dele e tipo se sentir o maior, mas mesmo assim fiquei em segundo que a do Farinheira era mais pequena apesar de ele ser quase 6 meses mais velho do que eu e ter sido circuncisado, coisa que naquela altura fazia muita confusão e que toda agente queria ver, até a menina Cilinha que trabalhava nos correios e tinha fama de papar putos, e que uma vez pediu ao Armando das Cobras para lhe arranjar umas telhas lá do barracão da parte de trás da casa dela que era mesmo ali em frente da Casa do Povo e quando se subia à varanda do primeiro andar mesmo em frente de costas para a mesa de snuker com as de ping-pong do lado esquerdo que o maricas do Tchico insistia em chamar de Ténis de Mesa e que tinha daquelas raquetes com esponja e tudo e que o Mói disse que ele um dia enfiou o cabo da que era verde de um lado e azul do outro nu cú e que na realidade até tinha uma forma bastante fálica com a ponta arredondada para um cabo de raquete e que ele se recusava sempre a emprestar o cabrão do maricas que era bom como o milho e que nos meus delirio de amor/ódio imaginava de pernas abertas com o cabo da raquete todo lá dentro, e que olhando assim de esguelha se conseguia ver, o barracão da casa da menina Cilinha não o cu do Tchico com o cabo da raquete todo enfiado, e que em troca do serviço ela lhe tirou uma "imperial de joelhos" e que o gajo se fartou de ganir e dizia a toda gente que ela era mesmo uma gulosa o que fez com que o Senhor Martins do supermercado andasse à porrada com ele porque se dizia à boca pequena para a dona Celeste não ouvir, que a velha era mais cega que uma mula sem dentes, que o velho era apaixonado pela moça e que batia umas à noite à porta dela debaixo da janela da esquerda de quem está de frente para a casa e de costas para a Casa do Povo, que dizem que era a janela do quarto dela. Dizem, que eu cá nunca vi nada. Infelizmente.

Sim 1980 e tal foi um ano engraçado.

O meu primo era atrevido mas não comigo, infelizmente. Atrevido era o Zé Carlos que andava um ano à minha frente mas do que ele gostava era de andar atrás. Esse sim era atrevido e tinha a mania que era muita giro e que as miúdas miúdos e tudo o que mexia estava perdido de amores por ele é claro que a malta aproveitava e fazia-se assim tipo umas brincadeiras tipo pó mais atrevidas com as”partes” do Zé Carlos e o Zé Carlos com as nossas “partes” nem sempre ao mesmo tempo e nem sempre nesta ordem sem ordem e tudo ao molho que me lembro de uma vez sermos 6 ou 7 numa casa de banho da escola a ver que tinha a maior e fazíamos “festinhas” para ver quem “engrossava” mais depressa e depois a ver quem “chegava mais longe” e um dia o Zé Carlos lançou a brincadeira do “chupa-chupa” e foi o descalabro porque o Mário João que era quem tinha a mais grossa queria ser sempre o primeiro para ficar a gozar com os outros e mandar bocas do tipo “vai, isso morde o gajo, morde vá lá. Não és homem nem és nada”. O Mário João é que tinha um primo que já andava tipo no secundário e que também gostava de brincadeiras tipo “billui bilu Tétea” é que nos mostrou o dele o primeiro a sério, daqueles que só se via nas páginas da Gina que se compra na papelaria do senhor Texugo que era coxo e que as vendia às escondidas “a ver se o teu pai não sabe senão digo que ma roubaste e depois ele arranca-te o pelo” .Esse é que nos ensinou a técnica do “cuspo” era só lamber a palma da mão para ir até ao céu. Quem nos ensinou foi o Primo do Mário João não o senhor Texugo que esse também mostrou mas foi à Susana e ela foi a gritar para casa que tinha visto visto o coiso do senhor Texugo, mas a verdade é que ele diz que não foi nada disso, ele apanhou-a a roubar rebuçados e para não contar à mãe dela que era gorda que nem um hipopótamo ela lhe bateu uma, a Susana não a mãe, ela depois veio dizer que esteve pra li mais de um tempão e aquilo não levantava que parecia uma farinheira mole e ela pra li a esfregar pra cima e pra baixo, quando se acabou os rebuçados que se foi embora com o senhor Texugo atrás dela de calças nos tornozelos “anda cá minha filha, que eu não te faço mal” O pai dela é que não achou graça e vai dai espetou um banano no velho, toda a gente achou mal, que o senhor Texugo era muito respeitado e nunca fez mal a ninguém, o certo é que a partir dai o Zé Carlos andava sempre a gamar rebuçados mas acho que nunca teve sorte. Sorte teve o primo do Mário João quando o Vasco descobriu as maravilhas da técnica do cuspo, não nele mas no primo do Mário João, é que era todos os dias, depois da escola quando chegava a camioneta era velos os dois a caminho da casa de banho do ringue desportivo. Que aquilo tinha uns balneários e a malta descobriu que se conseguia abrir as portas com um ferrinho que o Mendes tinha trazido da oficina do pai. Foi ele que arranjou o primeiro maço de kentuckys pá malta que a mãe dele tinha uma taberna, o pai do Mendes não o Mendes, um senhor muito porreiro que nos emprestava sempre as Wekend Sex para levar para casa na condição de devolver tal como estava a troco de uns servicinhos depois de fechar a oficina. Dizem, que a mim nunca me pediu nada. Infelizmente.

1980 e picos foi um Verão engraçado.

Eu tive um daqueles melões de plástico cor-de-laranja atravessados por dois cordéis atados a pegas que nos faziam abrir e fechar os braços para irem de ponta a ponta e uma Bota Botilde que se punha na perna para rodar e passar por cima com contador e tudo. O meu primo tinha um limão. Acho eu que era um limão. Depois caiu e esfolou os joelhos e atirou como limão para o telhado da vizinha da frente da minha avó e depois andava sempre a cravar-me a bota que tinha uma contador porque ele não gostava de brincar comigo com o melão, isso era só com a Lina uma prima nossa mais velha que já tinha mamas e disso o meu primo gostava, até que um dia foi mais atrevido e o Pedro irmão da Lina lhe ir as trombas. Depois fomos para a Nazaré e a Lina mostrou-nos a xoxota em troca de dois Fá de morango mas o meu primo pôs-se à frente e eu cá não vi nada. Infelizmente.