5 de setembro de 2008

The Love Boat

Setembro de 87, o que em princípio era para ser uma viagem de 12 dias a a bordo de um cargueiro da extinta Marinha Mercante onde o meu pai trabalhava na altura, de Lisboa à Guiné e voltar acabou por ser 2 meses no mar com escalas em cabo Verde, Philadephia, Nova Iorque, Dunkerque, Rotterdam, Hamburgo, Porto e finalmente Lisboa. Dois meses num barco cheio de marinheiros porcos e mal criados e de oficiais que de cavalheiro não tinham nem a ponta dos cabelos. Viajavam connosco duas personagens, a primeira um praticante de máquinas em estágio a quem fiz a vida negra naqueles dois meses e que logo à saída do cais da Rocha ficou baptizado por "Pássaro Loiro" por causa de uma musica acho que da Lena D'agua, e a Lúcia, uma ajudante de piloto boa como o milho e a única mulher a bordo e que deixava os homens todos loucos.

Nessa viagem dividia uma cabine com um marinheiro chamado Carlos e que era guarda de portaló, eu no beliche de cima e ele no de baixo e que de vez em quando especialmente quando chegámos à Europa me deixava "dormir" com ele por causa do "frio", sim porque aquilo "é normal, não quer dizer que a gente não goste de gajas, mas depois de tanto tempo no mar tás a ver a malta tem de se aliviar. E os amigos são para as ocasiões..." debitava ele depois de ao espreitar do beliche de cima o ter apanhado a masturbar-se e de o tipo ter ficado todo atrapalhado quando me juntei a ele "eh pá mas que idade é que tu tens afinal? Com uma verga desse tamanho!?" E vai daí agarrou-se a ela e nunca mais a largou...

O Pássaro, coitado, sofreu um bocado comigo, desde massa consistente a rechear as botas, aos berlindes no teto falso, passando pela "cama à espanhola" e pela braguilha de todas as calças cozida com fio de pesca, preparei-lhe um baptismo/barrela de passagem pelo Equador, então em conjunto com alguns marinheiros e com a conivência dos oficiais lá agarramos o Pássaro que nu e amarrado pelos pés foi suspenso no convés para um banho de água fria, umas quantas vergastadas no rabiosque com uma varinha de cabo de aço e uma depilação genital gentilmente oferecida pelo barbeiro de serviço, ou seja, eu.

O tipo até levou aquilo tudo na brincadeira, que ele no fundo até era um bocado tó-tó, mas o melhor disto tudo foi no dia a seguir é que para quem não sabe eu explico, o navio está dividido em 4 partes: a Ré, ou seja a parte de trás do navio, onde vivem os marinheiros que trabalham na Casa das Máquinas, o motor do navio, o Popa onde vivem os restantes marinheiros chamados de Mestrança e todos os outros que não sendo oficiais também não são marinheiros como por exemplo cozinheiros, despenseiros, empregados de câmaras etc., o porão e a torre, na torre para alem do posto de comando do navio vivem todos os oficiais cada um no seu camarote individual e foi por isso que eu tive de ir para a popa, visto o camarote do meu pai só ter uma cama.

Na popa só existem duas casas de banho tipo balneários, e foi ai que reparei que havia algo de diferente no Pássaro, e não fui só eu a reparar, até que um dos marinheiros gritou "foda-se Pássaro, tás cá com um vergalho pá, o que é que andás-te a fazer?" pois foi, depois da depilação forçada o pássaro do Pássaro parecia na verdade muito maior e então foi um ver se te avias com pedidos de "ó puto podes me rapar também a mim?". Assim e durante uma série de dias lá andei de cabine em cabine a depilar marinheiros. O ritual era sempre o mesmo, sentava-me com ele de calças em baixo e vai de aplicar creme da barba, depois esfregar um pouco para fazer espuma o que resultava quase sempre em mágnificas erecções e depois lá tinha eu de aliviar aquilo para os poder rapar em condições, foi assim que até ao fim da viagem ganhei a alcunha de "Mãozinhas".

Depois quando chegamos à Holanda ou à Alemanha, não tenho bem a certeza, aparece-me o Primeiro Imediato na sala de convívio da Popa, um cubículo recheado de posters de gajas nuas, uma televisão e uma estante com a maior colecção de livros pornográficos que alguma vez vi na vida, e diz-me se eu não me importava de passar na sala dos oficiais mais tarde que ele e o Primeiro Piloto queria fala comigo. Entrei em pânico. Eu, na sala dos oficiais? Porquê? Será que a cena do "Mãozinhas" tinha chegado lá acima? Será que o meu pai já sabia? Foda-se até já estava a ver os outros oficiais: “Já sabes pá? O filho do capitão pá, anda por ai a bater pivias aos marinheiros”.

Assim à hora combinada lá fui, e qual não é a minha surpresa quando ao chegar lá os dois pegam em mim, levam-me para o camarote do Piloto arreiam as caças e “Por favor pá, rapa lá gente que a gente não conta nada ao comandante. Por favor.” E pronto, lá teve de ser, com eles muito embaraçados, que não estavam acostumados aquele nível de intimidade e como tal foi uma estreia para eles e o mais acanhado dos dois era o Imediato que quando se veio parecia uma fonte e deve ter mandado perto de meio litro que o Piloto até disse “Com um caralho, há quanto tempo é que você não manda uma ó Imediato? Olhe que isso faz mal homem! Deixe lá que a partir de hoje eu ajudo-o com isso...” e segundo parece ajudou mesmo que ficaram os dois em franca confraternização quando me fui embora. Nessa noite contei o caso ao Carlos e ele riu-se a bandeiras despregadas, que já desconfiava do Piloto, que ele comia a malta com os olhos “... E por falar em comer? Não queres mordiscar nada?” dizia ele com ele na mão.

A 28 de Outubro chegá-mos a Lisboa. Foi o fim da viagem, o fim da aventura. Nunca mais soube nada do Carlos, anos mais tarde encontrei o Piloto numa outra viagem, num outro barco, desta vez de cruzeiro viajávamos os dois sozinhos, eu até Miami para ir ter com o meu pai e ele a trabalhar, reconheceu-me logo que me viu “Mãozinhas. Então? Bolas, Cresceste pá! Ouve lá, ainda?...”. Soube depois que o Imediato tinha ficado em Lisboa. Infelizmente, para ele. Que a minha viagem até Miami foi, como dizer? “Depilatória”!

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