20 de novembro de 2008

Chora e não berra

No Inverno de 1984 o que estava a dar eram as matines. Dois gira discos, as colunas do rancho folclórico, umas luzes pindéricas e uma bola de espelhos, um rancho de putos no cio, junta-se tudo na garagem da Casa-do-povo com um quadro que ia abaixo de dez em dez minutos, e temos as matines. Na altura o grande sucesso era uma música de Jim Diamond, o "I Should Have Known Better" ou como a malta cantava enquanto dançava muito agarradinhos, ás vezes uns aos outros, "Aí chora e não berra".

Quer dizer, dançar dançar ninguém dançava, porque era raro irem miúdas às matines, que aquilo era um antro de perdição até a direcção da Casa-do-Povo a fechar e termos de nos mudar para a garagem do Pesca. Nunca percebi muito bem porque é que o Pesca se chamava Pesca, o Pedro dizia que era porque o tinha em forma de anzol mas eu nunca acreditei.

Na garagem do Pesca as tardes pareciam nunca mais acabar, tínhamos apenas cinco ou seis discos, entre eles o meu "O Disco Do Ano" que os meus pais me tinham dado pelos anos. Assim, à média luz e apenas com duas ou três miúdas para disputar o ambiente não era lá muito respirável e quando chegava a parte do slow era sempre a malta toda a encostar-se à parede a fumar um cigarro a meias ou então os mais destemidos dançavam sozinhos ou uns com os outros, só para treinar para quando viessem mais miúdas, o problema foi que elas nunca vieram.

Eu gostava de dançar, não tinha muito jeito mas com muita paciência e pés doridos o Chicha lá me foi ensinando como se dançava o slow. Ensaiávamos sempre em casa dele, no quarto e sempre ao som do "Chora e não berra". O Chicha tinha uma particularidade, rasgava sempre os bolsos das calças para poder chegar mais facilmente à chicha. Descobri isso da pior, ou da melhor, maneira. Um dia depois do ensaio resolvemos fumar um cigarro e vai dai meto-lhe a mão no bolso e qual o meu espanto que em vez dos cigarros apanho um charuto, foi uma risota pegada, eu com ele na mão dentro do bolso muito atrapalhado sem saber se largava ou não e o Chicha muito satisfeito a rir a bandeiras despregadas.

Um dia então resolvi fazer o mesmo, rasguei o bolso direito e lá fui para a a matine, o primeiro foi logo o Tchico, queria uns trocos para uma cola no bar do Ti Jorge e ao meter a mão como de costume a ver se eu tinha uma de 20 apanhou cá um susto que até se arrepiou, depois lá voltou a por a mão no bolso e continuou a procurar a procurar sempre com aquele ar de sacana que ele tinha.

O certo é que a moda pegou e não tardou muito andava toda a gente com os bolsos rasgados. As matines ganharam um novo alento, já que durante os slows andava toda a gente de bolso em bolso a ver se alguém tinha uns trocos ou cigarros. Segundo consta o bolso mais concorrido era o do Pesca que assim que alguém lá punha a mão não tirava mais, com ele logo a dizer "Aí chora e não berra". Consta, que eu nunca lá pus a mão. Infelizmente.

6 comentários:

Pinto disse...

Pois pois...

SP disse...

Olá, boa noite!
Obrigado por o sítio peludo fazer parte da tua lista!
Um abraço peludo e prometo voltar.

Markus disse...

Adorei o "Chora e não berra"... risos...
Boas reminiscencias...
Forte abraço

1% disse...

este blog = ☆☆☆☆☆.

felizmente.

Pedro disse...

Rapaz, descobri o teu blog e tive a lê-lo quase todo.

Cheguei a fazer copy paste para o Word só para meter uma linha vazia no final de cada parágrafo. Se calhar nah era má ideia fazeres logo isso no blog.

Tem muita classe, o teu blog.

Bubbles disse...

Adorei o blog!
vou adiciona-lo a minha lista!
xxx