27 de julho de 2009

Let's get physical

Os sentidos são coisas engraçadas. O cheiro, o odor de certas coisas leva-nos em viagens a lugares e a situações já esquecidas. Neste caso foi o cheiro de um gel de banho novo. Tem o cheiro do balneário do liceu. A mistura do cheiro do champô Linic com uma dose industrial de testosterona adolescente em ebulição.

O balneário do liceu era um grande corredor com bancos corridos e cabides de parede, ao fundo uma zona forrada a azulejo "azul cueca" com cerca de vinte chuveiros suspensos de um varão central.

Eu tinha ginástica todas as quartas feiras de manhã e todas as quartas feiras chegava atrasado, quase sempre em risco de ficar com falta porque o prof Gonçalves não era para brincadeiras, infelizmente porque eu na altura não me tinha nada importado de brincar com ele.

O prof Gonçalves andava sempre de fato de treino e tinha entre as pernas uma melancia. Pelo menos era o que parecia, tal não era o volume. Na hora de exemplificar algum exercício, arrancava as calças pelas molinhas laterais das pernas qual striper e de calçãosinho lá mostrava como se fazia o pino entre gritinhos das raparigas o esgar de nojo de alguns rapases e o sindroma de Pavlov de alguns outros. Sim, o prof Gonçalves não usava cuecas.

A razão do meu atraso devia-se ao facto de as aula começarem às dez horas, precisamente ao mesmo tempo que acabava a aula do décimo primeiro ano e lá ficava eu a equipar-me muito devagar, quase em câmara lenta, chegando ao ponto de retirar os atacadores das minhas Adidas Nastase para poder demorar mais um pouco e assim enquanto a turma sete do décimo primeiro tomava duche e se lavava eu também ia lavando os olhos. Depois lá ia a correr para o ginásio e para o ralhete do prof Gonçalves.

Nessa turma do décimo primeiro havia dois gémeos, o Celso e o Nelson, ambos com corpo de ginasta russo e genitália de chefe de tribo africana. Eu perdia-me em contemplações e fantasias com aqueles dois pedaços de mau caminho. Os gémeos eram perseguidos por uma legião de miúdas a quem eles não ligavam nenhuma, vivendo um para o outro e para os poucos amigos que pareciam ter. O Chicha não percebia este meu fascínio pelo balneário. Sim aquilo era bom de se ver mas não podia passar dai, e isso a ele não lhe interessava nada.

Certo dia o prof Gonçalves faltou, lá tivemos de voltar ao balneário para nos desequiparmos e cada um ir fazer o que bem lhe apetecesse nas duas horas seguintes. Ainda lá estavam alguns do décimo primeiro, entre eles os gémeos. E lá fiquei eu, mais uma vez em câmara lenta a vê-los passar a toalha para se secarem antes de se vestirem, quando dei por mim já toda a minha turma tinha saído, estava-mos só eu, o Chicha, o Bruno, os gémeos e mais quatro da outra turma.

O Chicha desbocado como sempre manda uma tirada sobre o comprimento dos gémeos de tal maneira alto que até fez eco. Vai um deles levanta-se chega-se junto a ele, bem ao meu lado, tira o material das cuecas e pergunta-lhe se ele o quer medir. Mas o pobre não sabia com quem se estava a meter o Chicha agarra-lhe no instrumento e entre risadas diz que não tem ali régua mas que se ele e os amigos quiserem arranja-se qualquer coisa.

O certo é que os outros cinco vieram logo para junto de nós e um deles sacando do dito cujo avança logo com uma de "Olha os putos querem festa! Então mede lá este também..."
Em menos de nada, já os gémeos, o Bruno e mais um tipo se tinham pirado e em menos de cinco minutos, sempre com o coração na boca, quer dizer o coração e não só, com medo que aparecesse alguém o serviço foi despachado.

Assim, todas as quartas feiras às dez horas lá ficava eu a equipar-me bem devagarinho, mas agora com a companhia do Chicha enquanto os nossos três novos amigos se desequipavam também muito devagarinho bem à nossa frente...

Anos mais tarde já na faculdade, encontrei os gémeos, tinha aberto um salão de cabeleireiro. Eu entrei para um corte de cabelo e ao vê-los o meu coração caiu aos pés. Enquanto lava a cabeça tomei coragem, apresentei-me e relembrei os tempos do liceu e a tesão que me tinham provocado na juventude. O certo é que em menos de nada o salão estava fechado. As persianas corridas e as nossas roupas espalhadas pelo chão.

Foi o concretizar de mais uma tara de liceu, apesar de tudo posso dizer que não foi de longe o melhor corte de cabelo que já tive. Infelizmente. Pois sai de lá sem o cortar.

3 comentários:

João Roque disse...

Estou a precisar de cortar o cabelo; ainda tens a morada do salão?

instiga-me disse...

Ai, que saudade dos anos 1980...
Suas histórias são ótimas. Eu me entreti bastante por aqui.
Um grande abraço a você e aos irmãos do velho mundo!

instiga-me disse...

Ai, que saudade dos anos 1980...
Suas histórias são ótimas. Eu me entreti bastante por aqui.
Um grande abraço a você e aos irmãos do velho mundo!